Aluno com altas habilidades pode ter dificuldades na escola?

12/04/2024

Quando se fala que uma criança ou adolescente possui altas habilidades/superdotação (AH/SD) comumente se pensa na figura de um pequeno gênio, capaz de soletrar palavras com alto nível de dificuldade ou realizar cálculos mentais complexos. Mas relacionar as AH/SD puramente com talento e alto desempenho acadêmico, associado à ausência quase total de abordagem do tema na formação inicial e continuada de professores, pode contribuir para a invisibilidade desses estudantes em sala de aula e confundir as características com hiperatividade ou outro transtorno.  

Autores como Renzulli (1986) compreendem o fenômeno da superdotação com base no Modelo dos Três Anéis, representado abaixo. Ele propõe um conjunto de traços que, juntos, caracterizam o comportamento AH/SD: habilidade acima da média, comprometimento com a tarefa e altos níveis de criatividade. 

Gráfico altas habilidades

Renzulli (1986) apresenta dois tipos de superdotação: a escolar ou acadêmica e a produtivo-criativa. O primeiro é o mais identificado e reconhecido. Geralmente os estudantes com esse tipo de superdotação apresentam bom desempenho escolar. No segundo, “as situações de aprendizagem concebidas para promover a superdotação produtivo-criativa enfatizam o uso e a aplicação do conhecimento e dos processos de pensamento de uma forma integrada, indutiva e orientada para um problema real”. (RENZULLI, 2004) 

Por isso, o avanço de pesquisas demonstra a necessidade da identificação e avaliação das AH/SD ser multimodal, com instrumentos respondidos por pais e professores e avaliações pedagógica, psicológica e complementares. Isoladamente, o QI não determina altas habilidades. 

Segundo a OMS, cerca de 5% da população mundial tem altas habilidades. No Brasil, a proporção corresponde a aproximadamente 2,3 milhões de crianças e adolescentes. Mas, conforme o Censo Escolar de 2020, apenas 1% deles, cerca de 24 mil, são identificados como AH/SD. 

Conforme Denise Fleith, presidente do World Council for Gifted and Talented Children e professora da Universidade de Brasília, a pessoa com AH/SD necessita de uma variedade de experiências enriquecedoras, que estimulem seu potencial e favoreçam o desenvolvimento das habilidades. Inclusive, o potencial pode se manifestar somente quando ela está engajada em atividades de seu interesse ou inserida em ambientes estimuladores e desafiadores.  

Nesse sentido, é preciso cuidado para não culpabilizar os estudantes com altas habilidades pelas dificuldades que apresentem. Eles podem ter um baixo rendimento por considerarem as aulas monótonas ou pela repetição excessiva de conteúdos. 

Por outro lado, há um número limitado de profissionais com formação qualificada na área de altas habilidades, mesmo na rede privada de ensino. Para reverter este quadro é necessária formação adequada, que considere os desafios acadêmicos, emocionais e sociais destes estudantes, compreendendo que eles vivenciam, processam e respondem ao mundo de maneiras diferentes.

 

Referências 

Alencar & Fleith, 2001; Almeida et al., 2013; American Psychological Association, 2017; National Association for Gifted Children, 2020; Pfeiffer, 2013; Renzulli, 2016; Sternberg & Ambrose, 2021; Subotnik et al., 2011)  

RENZULLI, J. S. The three-ring conception of giftedness: a developmental model for creative productivity. In: RENZULLI, J. S.; REIS, S. M. (org.). The triad reader. Mansfield Center: Creative Learning, 1986. p. 2-19.. 

RENZULLI, J. S. O Que é Esta Coisa Chamada Superdotação, e Como a Desenvolvemos? Uma retrospectiva de vinte e cinco anos. Disponível em: https://www.marilia.unesp.br/Home/Extensao/papah/o-que-e-esta-coisa-chamada-superdotacao.pdf 

 

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