Os desafios da formação de jovens e adultos

2/06/2021

 

Há quem diga que ensinar é uma arte. Se pensarmos que a arte necessita de uma troca, de uma interação, sim, de fato ensinar é uma arte. Como o artista que necessita do público para dar sentido à sua obra, a educação precisa que haja uma troca entre os atores que a protagonizam.

Uma nova educação

Professores, agentes de ensino, alunos e comunidade escolar dividem o mesmo palco, sem ter aplausos como norteadores de sucesso, mas, sim, sorrisos recíprocos que se abrem após o conhecimento se fazer presente na descoberta de algo novo, na ideia de que construir laços também é traçar linhas em direção ao futuro.

Há um desafio imenso ao buscar que a Educação seja cada vez mais atrativa, descontraída, libertadora, e, por que não, nova. Mas há um prazer único quando todos os atores envolvidos no processo se sentem desafiados e buscam o mesmo objetivo. Trata-se de uma diversidade de vivências que se unem no mesmo propósito. Os desafios, portanto, se estendem tanto para um quanto para outro.

A Educação de Jovens e Adultos é um exemplo claro não só do que já foi dito aqui, mas, ainda, de superação e ressignificação, pois é carregada de inúmeras histórias de vida que se propõem a trocar experiências e construir novas memórias para um futuro nem melhor, nem pior, mas diferente.

O desafio, neste caso, é sim propor que os alunos desenvolvam uma nova relação com a escola, ambiente que, talvez, não lhes traga lembranças doces, mas que também pode lhes trazer recompensas que os façam enxergar que cada passo dado em direção à conclusão da educação básica é ir ao encontro de tudo ofertado até aqui. É escrever novamente os capítulos de um roteiro que eles mesmos irão protagonizar.

Autonomia libertadora

Não há como pensar na Educação de Jovens e Adultos e não pensar em Paulo Freire, que tanto lutou para uma educação libertadora com alunos que concebam a autonomia descrita com entusiasmo em suas obras, com alunos que busquem por uma prática que os ensine pelo amor, pela acolhida e não só pela batalha diária que a vida fora da escola já lhes impõe.

No livro “Pensatas Pedagógicas – Nós e a Escola: Agonias e Alegrias”, Mário Sérgio Cortella refere-se a Paulo Freire como “incansável construtor do impossível” e é assim que vemos diariamente os profissionais que atuam na Educação de Jovens e Adultos. Não que os profissionais de outras modalidades também não sejam, claro que são. Mas os desafios impostos pelo tempo fora da escola, pela escolha entre buscar o alimento para o corpo durante o dia no trabalho e o alimento para a alma na escola à

noite é o que faz de alunos e professores da EJA incansáveis construtores daquilo que muitas pessoas julgam impossível.

A aprendizagem com acolhimento

No mesmo livro, Cortella ainda menciona sobre os prós e contras de ser professor. Faz uma analogia que, ao listar os motivos da escolha, a lista do “apesar de” não pode ser maior que a lista do “por causa de”. Os desafios diários enfrentados na formação de jovens e adultos também residem em cada ponto que agora, lendo, você, profissional da educação, revê inconscientemente.

E aqui podemos contribuir com este breve exercício, apontando divergências e conflitos que possam ser balizadores e impeditivos para que alunos busquem retomar ou continuar seus estudos. Entre eles, estão coisas como a constante evolução tecnológica e o sentimento de analfabetismo digital, a carga horária de trabalho e o pouco tempo para os estudos, a discrepância de idades entre os alunos, a dificuldade de um ensino remoto ou à distância, o preconceito por reiniciar ou iniciar os estudos, a diversidade sociocultural ou a busca por uma educação que lhes faça desenvolver habilidades e competências que até então desconheciam.

De fato, alguns pontos podem afastar possíveis alunos do processo de ensino. Porém, a aprendizagem começa no acolhimento, na conversa franca que a escola tem ao apresentar os dados e índices de pessoas que iniciaram seus estudos tardiamente, mas que em seguida se reconheceram como seres humanos diferentes ao se perceberem como parte questionadora da sociedade que até então só lhes trazia respostas prontas e, comumente, negativas.

Quando há este acolhimento, há também a resolução de problemas. Há quebra de barreiras que não mais balizam, mas norteiam. Há uma entrega mútua, cativante, capaz de fazer com que muitos alunos desenvolvam também um desejo de ingressar na carreira docente. E é aí que a arte supracitada se faz presente por completo: quando os atores do processo buscam nas dificuldades os motivos e meios necessários para alterar a condição de cada um, seja de um professor com pouca experiência, seja de um aluno sem perspectiva de futuro até então.

Não há fórmulas prontas

Não há, contudo, uma fórmula perfeita. As dificuldades se apresentam em situações distintas, mas, em cada uma delas, haverá pessoas dispostas a buscar soluções e estratégias sólidas para que a Educação se fortaleça e a aprendizagem seja constante. Podemos sim acompanhar muitos teóricos e enfatizar que ensinar é uma arte, talvez a mais bela, talvez a mais dura, mas com certeza a mais recompensadora.

Por Jorge Júnior Dihl dos Santos

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