A Diversidade Cultural é um fato da vida. E cabe a nós, pessoas educadoras, facilitar o acesso e o acolhimento das diversidades como parte pulsante da Comunidade Escolar. Isso pode transformar a realidade de Estudantes e Educadores.
Hoje, falamos sobre Diversidade o tempo todo. É uma palavra “da moda”. Todas as instituições que querem forjar uma imagem coerente com a atualidade, demonstram publicamente sua preocupação com a diversidade – faz parte de qualquer estratégia de marketing. Mas, e quando essa diversidade precisa ser colocada em prática? E quando a diversidade é fato no dia a dia das pessoas comuns? Quando falamos de Diversidade Cultural, é sempre bom ressaltar que a cultura é algo construído tanto em sociedade como por experiências e conhecimentos individuais e que a Diversidade Cultural advém das coexistências destas construções complexas em um mesmo espaço – seja ele simbólico, digital ou físico. Cultura é o composto daquilo que nos cerca e das mais diferentes situações que se impõem na nossa vida: ela é construída através das nossas configurações identitárias, comunitárias, espirituais, cognitivas, de família e de relações em geral.
Em primeiro lugar, é importante reconhecer a Diversidade como um fato dado. Não estamos propondo uma discussão para criar “estratégias de diversidade” – porque a diversidade em si já existe seja na natureza ou no mundo social. O que aconteceu durante muito tempo foi o apagamento e o silenciamento das diversidades. Realidades outras, populações marginalizadas, religiões consideradas não-normativas, famílias de estruturas alternativas às convenções simplesmente eram invisibilizadas e suas demandas não eram ouvidas por uma sociedade que preferia fingir que as diferenças não existiam – levando à micro agressões e mesmo a violências. Recentemente, com o avanço dos movimentos sociais e das pesquisas em Ciências Humanas, estas populações puderam começar a trilhar um caminho árduo rumo a sua possibilidade de existência cidadã – mas ainda tem muito trabalho pela frente para que a existência de todas as pessoas seja viável.
Então temos o primeiro ponto de consenso: A Diversidade é um fato. E o que cabe a nós? O que nós como membros da sociedade e atores ativos na comunidade escolar podemos fazer é, a partir do reconhecimento das diversidades ao nosso redor, articular atitudes que tornem essas existências diversas possíveis no ambiente escolar e viáveis no contexto educacional e na vida.
O primeiro ponto é institucional: Proporcionar acesso; e acesso à educação não se resume à matrícula na escola. Sabemos que os objetivos principais da educação são 1) o pleno desenvolvimento da pessoa educanda 2) o exercício da cidadania 3) a preparação para o mundo do trabalho. Dessa forma, dar acesso à educação e buscar estes três objetivos para cada uma das alunas e alunos é, sobretudo proporcionar CONTEXTO para que cada pessoa se sinta parte ativa neste organismo complexo e vivo que é a escola. E medidas simples podem transformar a vida e a história de cada estudante.
Gosto de usar o meu exemplo pessoal: eu fui criada pela minha vó até os 14 anos. Meus pais eram vivos mas ficou decidido que eu moraria com minha avó enquanto meus pais e meu irmão morariam em outra casa. Era difícil pra mim explicar pra colegas e mesmo pra professores que eu morava com a minha vó mas eu tinha mãe e pai. E, obviamente, as crianças me perguntavam se eu tinha algum problema, se minha mãe não gostava de mim, etc, etc. – o que, hoje, chamamos de bullying. Já adulta, eu me pergunto se, em um ambiente onde a diversidade fosse reconhecida e trabalhada em sala de aula como um fato natural e que precisa apenas ser acolhido, eu não teria sido uma aluna menos traumatizada e se minhas lembranças da escola não teriam sido muito mais felizes. Este é um caso relativamente “leve” frente a muitas situações que assistimos e vivenciamos no ambiente escolar. Mas ilustra adequadamente como o trabalho do reconhecimento da diversidade pode tornar a experiência escolar mais próxima do que seriam os principais objetivos da Educação.
O acesso e o contexto são os fatores que proporcionam o sentimento de PERTENCIMENTO – que é sabidamente um dos principais fatores de sucesso escolar e de retenção da pessoa estudante na escola, proporcionando uma educação mais completa e integral e aumentando as perspectivas para a vida adulta e para o trabalho. Portanto, quando tratamos de diversidade cultural (e outras diversidades) na escola, podemos partir do princípio de que o acolhimento a outras realidades é o ponto de partida para a construção de uma cultura de diversidade que atravesse todas as instâncias da comunidade escolar e da educação como um processo cidadão e integral.
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Ane Molina é doutoranda na Universidade de Ottawa-Canada. Mestre em Comunicação e especialista em Educação (UFSCAR) e Publicidade (PUCRS). Ane é professora do programa Gestão e Formação Educacional do SESI RS.