Nos últimos dois anos, a popularização de ferramentas de IA Generativa, a exemplo do ChatGPT, ressaltou a necessidade de atualização constante de profissionais em diversas áreas. Essa tecnologia, que chegou com a promessa de disrupção, como uma nova era que transformaria a sociedade, despertou sentimentos quase extremos, indo do medo ao deslumbre.
Para que possamos adotar uma postura equilibrada e saber como usar IA de forma responsável e eficiente, cabe refletirmos sobre por que temos esses sentimentos negativos ou positivos.
É muito útil, em primeiro lugar, ponderar sobre a questão geracional e como ela influencia nossas percepções e formas de usar a IA. Consideremos que a Geração X, dos nascidos entre a metade da década de 1960 e o final da década de 1970, cresceu em um contexto muito diferente da geração dos millennials (nascidos entre o início de 1980 e final de 90) e da Geração Z (nascidos entre 1997 e 2012): millennials e Gen Zs só conhecem o mundo do trabalho já tomado pela internet. Dessa forma, há um hábito mais bem consolidado de se recorrer à tecnologia para a resolução de tarefas nas suas rotinas. Os integrantes da Geração X podem, então, precisar de maior incentivo e capacitação para adotar novas tecnologias como a IA no trabalho.
Também é relevante perceber como essas gerações usam a tecnologia com objetivos diferentes. Um estudo de Calvo-Porral e Pesqueira-Sanchez (2020) revelou que, enquanto millennials tendem a se engajar com a tecnologia buscando diversão e lazer, a Geração X usa a tecnologia principalmente de forma utilitária e para busca de informações. Isso pode significar que gerações mais jovens podem ter uma postura mais explorativa, incorporando essa tecnologia em mais funções no seu dia a dia, enquanto a Geração X pode fazer utilizações mais pontuais conforme demanda do trabalho.
Independentemente da geração, em outro estudo, Magni et al. (2024) verificaram que todos somos fortemente motivados a adotar ou não a IA para a realização de tarefas pela influência social: o grupo a que pertencemos (família, amigos, colegas e outros) desempenha um papel chave em como percebemos a eficiência de uma tecnologia, de maneira que, se a IA for percebida como eficiente pelo meu grupo, também o será por nós.
Contudo, os autores ressaltam como millennials e sobretudo a Geração Z tendem a ser mais influenciados pelo conteúdo de influencers digitais, que podem cumprir esse papel (Magni et al., 2024). Nesse sentido, observa-se que há muito conteúdo produzido nas redes para promover o uso de IAs, em uma competição por ofertar as recomendações mais atualizadas sobre ferramentas e formas de utilização. Assim, é possível que essas gerações sejam mais significativamente contagiadas com o entusiasmo pela IA, estando mais abertas à sua utilização.
Esse entusiasmo por consequência do consumo de conteúdos das redes sociais não necessariamente é algo positivo. É comum que esses criadores façam divulgações de ferramentas de IA como soluções infalíveis e transformadoras. Diante da crença de que estamos presenciando uma nova era de tecnologias, capazes de “resolver todos os problemas” ou “fazer melhor que humanos”, podemos estar renunciando ao nosso raciocínio crítico sobre os resultados da IA.
Sem perceber, assim, passamos a usar a tecnologia para resolver problemas que não existem, ou com produções incorretas. Contudo, é fundamental ter ciência de que somente quando o processo inicia por um ser humano capacitado, que raciocina sobre seu contexto de atuação e escolhe e programa ferramentas de IA corretamente, teremos sucesso nessa inovação.
Tanto a Geração X quanto os millennials cresceram em um contexto em que a IA não era a realidade palpável do dia a dia, mas sim fruto de obras de ficção científica. Nessas obras, a IA era protagonista de um futuro sombrio e de dominação da humanidade, a exemplo do que acontece em O Exterminador do Futuro (1985), Matrix (1999), entre outros. Pode-se argumentar que essa exposição contribuiu para moldar uma percepção sobre a tecnologia como algo ameaçador, que pode sair do controle ou tomar o nosso lugar.
Esse “medo” da Inteligência Artificial pode ser revertido em cuidados positivos, como a cautela na seleção de ferramentas ou no compartilhamento de dados pessoais. Entretanto, não podemos deixar que ele nos feche à possibilidade de trazer mais agilidade e qualidade aos nossos processos de trabalho usando ferramentas de IA. Mais do que isso, a grande variedade de soluções de IA Generativa gratuitas encontradas atualmente exige uma busca ativa por novos modos de executar tarefas diárias, com mais facilidade.
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Autor: Bruno M. Schwartzhaupt, Doutorando em Psicolinguística. Analista de conteúdo educacional e IA na Gerência de Serviços Digitais do SESI-RS.
Referências
CALVO-PORRAL, C; PESQUEIRA-SANCHEZ, R. Generational differences in technology behaviour: comparing millennials and Generation X. Kybernetes, vol. 49, no. 11, p. 2755-2772, Emerald Publishing Limited, 2020.
MAGNI, D; DEL GAUDIO, G; PAPA, A; DELLA CORTE, V. Digital humanism and artificial intelligence: the role of emotions beyond the human–machine interaction in Society 5.0. Journal of Management History, vol. 30, no. 2, p. 195-218, 2024.
2 comments on “Sem medo ou deslumbre: como usar IA de forma responsável e eficiente?”
Muito interessante o artigo! Com certeza no nosso cotidiano, seja de trabalho, laser ou estudo a IA atua com resultados e efeitos… Mas devemos tomar precauções vislumbrando uma forma sábia de seu uso, isso sim, há que ser muito bem observado. Todas os assuntos polêmicos envolvem duas faces: a positiva e a negativa… Consequentemente, a prudência e o conhecimento sempre de forma dinâmica e constante, poderão encontrar na IA uma aliada no sentido positivo auxiliando de fato nesse enorme universo de muitas tarefas e em muitas áreas..
Bruno Schwartzhaupt, reflexões importantíssimas no que tange a percebermos o compromisso ético no uso IA ressaltando a devida responsabilidade. Fazer uso das tecnologias como meio, se faz cada dia mais necessário. Outro ponto relevante é a possibilidade de ampliar a interação ativa entre as diversas gerações, nos oportunizando potencializar a aprendizagem contínua no contexto de trabalho, além de ampliar visões para atender o propósito da empresa, obtendo maior qualidade na prestação dos serviços com compromisso ético. Grata pela reflexão!