Por meio de várias análises probabilísticas, explorações e pesquisas científicas interdisciplinares a comunidade científica chega a algumas considerações sobre a vida no Universo, uma delas, que tomamos emprestado aqui, é a leitura apresentada por Alan Brito[1] de que a vida, como a conhecemos: “é um evento raro no Universo”[2], enquanto professor do Instituto de Física da UFRGS, o astrofísico, aborda, por meio de um pensamento crítico, que essa raridade da vida, deveria servir para produção de existências mais dignas para todas as formas viventes.
Entre as mais de 10 sextilhões de estrelas, das centenas de bilhões de galáxias[3], que temos conhecimento, existe o Sistema Solar, com o nosso planeta Terra. Todos nós, toda a vida que aqui habita é decorrente de combinações dos fragmentos de estrelas. Estamos na zona de translação em torno do Sol, com a distância ideal para não aquecer demais a superfície do planeta a ponto de evaporar elementos químicos em estado fundamentais à sobrevivência, e, também não congelar e cristalizar esses mesmos elementos e movimentos, que a vida precisa para acontecer. Essa distância é conhecida como zona habitável.
Essas constatações, que carregam novas dúvidas, sobre a existência da vida no Universo, só foram possíveis porque pessoas curiosas, inconformadas e persistentes olharam para cima um dia e se dispuseram a tentar mais. Ao mirar o céu e buscar compreendê-lo, desde a superfície do planeta Terra, civilizações distintas desenvolveram diferentes tecnologias e métodos de observação. Muitas delas amplamente conhecidas e difundidas com suas devidas autorias, como as invenções que resultaram na construção de: lunetas, telescópios como o gigante Hubble, o espacial James Webb, aplicativos de astronomia como Heavens-Above, Moon, Estellarium e outros.
Há outras autorias, nem tanto difundidas, por exemplo como as indígenas, mas devido sua importância para o legado da humanidade cabe recuperá-las aqui. Lendo os céus, as civilizações indígenas organizaram seus ritos e calendários agrícolas, mapearam milhares de constelações. Nos céus brasileiros, segundo Germano Afonso, pós-doutor em etnoastronomia, há mais de 100 constelações indígenas Tupi-Guarani. A organização alimentar indígena seguia[4] as flutuações sazonais que eram indicadas pelas constelações influenciando “no período da pesca, caça, plantio e colheita”[5], compreender a natureza, da qual somos parte, é um aprendizado na produção de conhecimento.
As diferentes culturas, ao seu tempo, fizeram e fazem descobertas que transformaram hábitos. Algumas dessas descobertas resultam em eventos que asseguram a sobrevivência, por meio de deslocamentos necessários em busca de nutrição para os corpos e mentes. Considerar as diferentes criações e inscrições na história é traçar compromissos éticos, estéticos e políticos, com as distintas expressões que têm o direito de existir e sonhar.
As diversas civilizações que realizaram e realizam a vida na Terra constroem legados, que se bem aproveitados, respeitados e considerados em processos educativos, podem auxiliar em muito a transformar nossos conflitos, resolver nossas situações-problema comuns. Isso pode reunir fragmentos para configurar um mundo melhor a todas as pessoas que habitam o nosso planeta, atribuindo significado e valor à raridade que portamos.
Em sala de aula, surgem as mais diversas perguntas sobre: o surgimento do Universo, do Sistema Solar, de onde vêm os elementos químicos? Ou como surgiu a vida na Terra? Poder relacionar o complexo conhecimento da humanidade sobre estas descobertas, até o momento, por meio de processos que possibilitem que estudantes, também, façam suas descobertas de forma honesta, revela parte da responsabilidade com uma educação integral para a vida.
Uma educação que acredita no diálogo, na aprendizagem, enquanto potencial criativo da humanidade, pode ser considerada uma educação transformadora, onde, com qualidade e determinação, se conduz processos formativos imbuídos de coragem e dignidade. Quer saber mais sobre este e outros assuntos com o objetivo de fortalecer a educação integral, auxiliando no desenvolvimento de todos os níveis da atuação escolar? Conheça o programa Gestão e Formação Educacional do SESI-RS para professores e gestores escolares. Acesse aqui.
Autor: Patrícia Gonçalves Pereira é Professora e Coordenadora da área de Ciências da Natureza no SESI/RS e faz parte do programa Gestão e Formação Educacional do SESI RS.
[1] Pesquisador e Autor de livros como: “Antônia e a Caça ao Tesouro Cósmico”, 2020, “Astrofísica para a Educação Básica: as origens dos elementos químicos no Universo”(co-autor), 2019, ambos pela Editora Appris e outros. Sugestão de artigo. “O ensino de física e astronomia pela perspectiva afro-indígena“. O Professor Alan estará conosco na 4ª edição da Mostra Sesicom@Ciência de 2022
[2] Fonte: Live Institucional – Educação para as Relações Étnico Raciais no Ensino Superior UFRGS, 2021
[3] De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) 2022. Disponível aqui.
[4] Há hábitos alimentares que puderam ser conservados, mas muitos foram alterados após contato colonial.
[5] Fonte: Portal EBC. Fique por dentro dos mitos e usos das constelações indígenas. Leyberson Pedrosa Edição: Amanda Cieglinski. Fev 2016.