Algumas provocações sobre o diálogo da Educação de Jovens e Adultos com o Mundo do Trabalho.
Pensar e fazer uma Educação para Jovens e Adultos – EJA dissociada da vida e do Mundo do trabalho não tem sentido. O alto índice de abandono da Educação Básica se dá por alguns motivos. Um deles é o perfil da escola tradicional, muitas vezes, distante da realidade, conteudista, fragmentada, sem sentido e não atrativa. Outra razão é a necessidade de os jovens “em tempo escolar” gerarem fonte de renda para suas famílias.
É uma dicotomia pensar que jovens abandonam a escola pela necessidade de geração de renda, optam pelo trabalho ao invés da educação e, mais tarde, necessitam estudar para elevar o seu grau de escolaridade e poder disputar melhores fontes de renda, melhor qualidade de vida e, por que não, desenvolver maior consciência, capacidade de escolha, e criar oportunidades de ser feliz. Diante dessa dicotomia, a EJA deve “colar” e não “descolar” da vida e do Mundo do Trabalho para que ela tenha sentido e significado aos estudantes.
Se pensarmos no contexto dos estudantes da EJA, bem como nas experiências de vida, e de trabalho, o diálogo entre Educação, vida e o Mundo do Trabalho se torna leve e fluído. Por isso, o currículo e a prática devem dialogar com estas mesmas experiências e contextos.
O Mundo do Trabalho é mais abrangente, considerando os Pareceres Nacionais de Educação Profissional e tendo como referência o nosso querido Mestre Francisco Aparecido Cordão. Quem atua na Educação Profissional, o conhece muito bem.
O Mundo do Trabalho pressupõe ir além das ocupações reconhecidas no Mercado de Trabalho. Considera também o cenário, as habilidades, as competências desse profissional, os processos de produção, as tecnologias utilizadas e avanços. Ora, se é necessário dialogar com o Mundo do Trabalho, precisamos também identificar que habilidades e competências são essas. Até porque o Trabalho não é mais o mesmo e exige novas aptidões desse trabalhador.
Fazer uma EJA capaz de dialogar com o Mundo do Trabalho é ir além do currículo, da construção dos conhecimentos, mesmo como meio e não como um fim. É oportunizar ao estudante o desenvolvimento de habilidades e competências, como a capacidade de pensar e agir na urgência, assim como decidir frente aos riscos e dúvidas, conforme Philippe Perrenoud provoca muito bem em seu livro “Ensinar: agir na urgência, decidir na incerteza”.
Se entendermos o conceito de competências de acordo com a definição de Philippe Perrenoud, ou seja, como “a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações, etc.) para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações”, temos que pensar e repensar a nossa prática. Precisamos analisar se, de fato, oportunizamos o desenvolvimento das competências ou somente favorecemos a construção de saberes “descolados” da vida e do Mundo do Trabalho.
A EJA deve promover o desenvolvimento indo além dos conhecimentos da Base Nacional Comum Curricular. Deve criar um espaço de penso, de reflexão, de escuta, de fala, de iniciativa e posicionamento, de trabalho em equipe, uso da tecnologia, de resolução de problema, de formulação de hipóteses, ou seja, deve fazer com que o estudante seja protagonista do seu processo de aprendizagem.
A EJA deve ser o laboratório para tudo o que de fato ocorre também na vida e no Mundo do Trabalho.
Por Aline Selhane Pinto e Sharlene Goulart Rodrigues