A IA que desaprendeu e 5 dicas para ter mais repertório

10/11/2025

Recentemente, pesquisadores de uma universidade do Texas publicaram um artigo com um experimento inusitado. Xing et al. (2025, pre-print) treinaram modelos de linguagem grandes, como o ChatGPT, com textos “de baixa qualidade” encontrados no X (antigo Twitter): manchetes sensacionalistas, teorias da conspiração, desinformação, spam, entre outros. 

O resultado? A IA desaprendeu. Os modelos, que antes desempenhavam bem em tarefas de raciocínio e compreensão de texto, bem como em testes de personalidade, passaram por um declínio cognitivo irreversível. Em todas as métricas, o percentual de acerto diminuiu. 

Um dos principais achados do estudo foi que alguns dos modelos de IA passaram a pular uma etapa de planejamento, equivalente a “pensar” antes de responder. Em 84% das falhas apresentadas, o problema detectado foi não ter pensado antes de gerar a resposta. 

Os autores, de forma inteligente, associaram o declínio cognitivo a um termo que viralizou no último ano: brain rot. Eleito o “termo do ano” em 2024 pela Oxford, brain rot (ou “apodrecimento do cérebro”) tem sido utilizado como crítica ao consumo exagerado de conteúdo banal da internet.

E o que isso pode nos mostrar sobre o aprendizado humano? 

Na prática, o experimento é mais um lembrete de que precisamos dar atenção ao conteúdo que consumimos, à frequência com que consumimos e o que isso significa para o desenvolvimento das nossas capacidades. 

De fato, nos últimos anos, alguns estudos mostraram que consumir conteúdo trivial da internet excessivamente pode nos levar a perdas na atenção, memória de trabalho, tomada de decisões, entre outros prejuízos cognitivos (Firth et al., 2019; Ioannidis et al., 2019). A preocupação é ainda maior com crianças e adolescentes. 

O problema está em entrarmos em ciclos que não desafiam o nosso raciocínio ou criatividade. É claro que, com as rotinas estressantes de trabalho e estudos que muitos de nós enfrentamos, muitas vezes, o que podemos fazer no fim do dia é ceder à tentação de desmoronar no sofá e rolar telas, buscando apenas entretenimento fácil. Contudo, temos que estar atentos a como distribuímos nosso limitado tempo livre, buscando ampliar o nosso repertório e desafiar nosso intelecto com regularidade. Todos sabemos que o corpo precisa de atividades físicas regulares, mas parecemos esquecer que a mente também demanda hábitos saudáveis. 

Pensando nisso, abaixo, listamos 5 dicas práticas para ampliar o seu repertório e evitar o brain rot.

 

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5 dicas práticas para ampliar o seu repertório

1. Perceba as fontes de conhecimento à sua volta
  • Há algum livro ou revista esquecido na sua estante? Que tal dar uma chance para uma leitura da qual você já tinha desistido sem motivo específico? 
  • Você tem assistido a documentários? Esse pode não ser o seu gênero favorito, mas as principais plataformas de streaming têm catálogos diversos e temas muito interessantes. Uma dica é conferir o documentário Nossos Oceanos (2024), da Netflix, que desbrava um mundo incrível, tem excelentes avaliações e conta com a narração de Barack Obama. 
  • Quem você segue no Instagram? As redes sociais também podem servir para acompanhar blogs, divulgadores científicos, psicólogos, entre outras fontes de conteúdo provocador. Você pode seguir o psicanalista e professor da USP Christian Dunker, cuja movimentada conta do Instagram aborda temas como saúde mental, filosofia e relações sociais. 
  • Você acompanha podcasts e TED Talks? Que tal dar uma chance?  No YouTube, uma busca pela playlist TEDx Talks em Português retorna uma lista de falas interessantíssimas. 
2. Coloque o conhecimento na agenda

Você não precisa dedicar uma tarde inteira para esse exercício. Às vezes, uma leitura de 5 minutos pode trazer uma ideia nova e mudar suas perspectivas. Que tal reservar na agenda 10 minutos por dia para ler ou ouvir sobre algo novo? 

3. Diversifique: saia da sua área

Nunca se sabe quando um conhecimento “aleatório” poderá ser útil: senão para resolver um problema inesperado, talvez apenas para começar uma conversa com alguém com quem se quer estabelecer uma conexão. Experimente temas sobre os quais você não sabe nada, ou mesmo temas dos quais não gosta! 

4. Use a IA para desafiar o seu ponto de vista

Se você tem um problema complexo na mão e um caminho que pretende seguir, use ferramentas como o ChatGPT para explorar outras perspectivas. Peça à ferramenta para argumentar contra uma decisão sua, propor riscos que você ignorou ou comparar abordagens diferentes para o mesmo problema. Assim, você amplia a sua flexibilidade cognitiva e reduz vieses confirmatórios.  

5. Faça um curso livre

Cursos autoinstrucionais de curta duração são uma ótima opção para exercitar a mente, ampliar seu repertório e desenvolver habilidades úteis para o dia a dia pessoal e profissional. O SESI conta com um portfólio de mais de 40 cursos livres, em diversas áreas, para você atualizar os seus conhecimentos. 

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Autor: Bruno M. Schwartzhaupt, Doutorando em Psicolinguística. Analista de conteúdo educacional e IA na Gerência de Portfólio e Soluções Digitais do SESI-RS.

Referências 

FIRTH, J.; TOROUS, J.; STUBBS, B.; FIRTH, J.; STEINER, G.; SMITH, L.; ALVAREZ-JIMENEZ, M.; GLEESON, J.; VANCAMPFORT, D.; ARMITAGE, C.; SARRIS, J. The “online brain”: how the Internet may be changing our cognition. World Psychiatry, 18, 2019. https://doi.org/10.1002/wps.20617. 

IOANNIDIS, K.; HOOK, R.; GOUDRIAAN, A.; VLIES, S.; FINEBERG, N.; GRANT, J.; CHAMBERLAIN, S. Cognitive deficits in problematic internet use: meta-analysis of 40 studies. The British Journal of Psychiatry, 215, 639 – 646, 2019. https://doi.org/10.1192/bjp.2019.3. 

OXFORD UNIVERSITY PRESS. ‘Brain rot’ named Oxford Word of the Year 2024. 02 Dec. 2024. Disponível em: https://corp.oup.com/news/brain-rot-named-oxford-word-of-the-year-2024/. Acesso em: 06 nov. 2025. 

XING, SHUO; HONG, JUNYUAN; WANG, YIFAN; CHEN, RUNJIN; ZHANG, ZHENYU; GRAMA, ANANTH; TU, ZHENGZHONG; WANG, ZHANGYANG. LLMs Can Get “Brain Rot”! 2025. 10.48550/arXiv.2510.13928.  

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