Antes espaço de acolhimento físico das crianças e fonte de segurança para pais e familiares, a escola, com a pandemia, passou a ocupar o espaço domiciliar, necessitando da família para auxiliar de forma abrangente no ensino dos filhos. Neste processo, como pais e filhos reestruturaram suas rotinas para contemplar as novas demandas? Quais os desafios importantes percebidos e que ainda precisam ser superados?
A psicopedagoga e coordenadora da Educação Infantil do SESI/RS Luciana Schneider explica que, anteriormente, quando os pais chegavam em casa, a atenção era voltada aos filhos, seja através das conversas, das brincadeiras ou de programas familiares. Na pandemia, o tempo em casa passou a constituir também o tempo de trabalho.
A pergunta que decorre desse novo momento é: como transpor a escola, espaço de aprendizado tanto no que se refere ao conhecimento quanto às experiências emocionais e sociais, para o interior das casas?
Ao que tudo indica, existe a necessidade de administrar expectativas e elaborar estratégias próprias, pois não há fórmula pronta. Nesse sentido, algumas questões são importantes para essa reflexão.
1) Rotina de estudos
É importante ter horário e local fixos para os estudos. Ainda que haja alterações de locais para a realização de atividades específicas, é preciso ter um local base. Para evitar distrações, a família inteira deve colaborar, auxiliando o aluno a manter o foco e a não se distrair.
2) Qualidade dos encontros a distância
É preciso avaliar se o momento de aprendizagem está sendo prazeroso ou problemático. Se o comportamento da criança difere daquele apresentado no restante do dia, é preciso conversar com ela para entender como está se sentindo com relação à escola. Também é essencial que a família converse com a escola, pois o professor, no modelo virtual, não consegue acompanhar o dia a dia da criança para verificar descompassos e desequilíbrios de aprendizagem e comportamento. Além disso, também é importante dialogar com a escola caso o trabalho do professor não esteja atendendo às expectativas familiares. Falar mal do professor na frente da criança poderá gerar conflitos emocionais que podem prejudicar o processo de aprendizagem.
3) Assistência da escola
Caso o momento da aula esteja sendo motivo de sofrimento para a criança, recomenda-se procurar a escola, que poderá oferecer o auxílio de um orientador pedagógico, de um supervisor ou mesmo do diretor. Ter conversas duras, impor castigos ou tirar coisas de que a criança goste para fazê-la realizar as atividades só contribuirá para que ela não goste da escola e, consequentemente, dos estudos.
4) Internet
Da mesma forma, dialogue com a escola caso você tenha dificuldades de estabelecer uma conexão virtual para a realização das aulas. Vivemos em um país que não estava preparado para ministrar aulas a distância, pois a internet ainda não é uma tecnologia acessível a todos, seja pelo custo ou pela cobertura das redes. Não se angustie, todos estamos fazendo o melhor que podemos!
5) O tempo para brincar
Deve ser garantido um período considerável para a criança brincar. As brincadeiras permitem a construção de conceitos importantes para a vida e para a trajetória escolar. Para construir uma torre de blocos, por exemplo, a criança precisa lançar mão de conceitos matemáticos, além de aprender a socializar, a cooperar, a resolver problemas e a negociar. Durante a brincadeira, a criança consegue expressar sentimentos que talvez não consiga em uma conversa. Assim, se na brincadeira a boneca estiver sempre triste ou se o carrinho sempre destruir os demais, converse, não deixe passar essa oportunidade.
Para mais informações sobre o tema, assista ao vídeo Diálogo com as famílias: o cotidiano das crianças em tempos de pandemia, elaborado pela Gerência de Educação do SESI/RS, disponível aqui.